A People for People é uma empresa que atua numa área de fulcral importância para as empresas: Os recursos Humanos. Como surge a People For People e o que traz de novo para o mercado?
A People For People surgiu no final de 2016, quando identifiquei um conjunto de oportunidades. Por um
lado, existia uma organização que se estava a dedicar e especializar somente nas áreas da distribuição
farmacêutica e indústria, não tendo know-how suficiente para continuar a suportar a área de recursos humanos. Por outro lado, existia um conjunto de profissionais muito experientes na área da Gestão do Capital Humano e na área das tecnologias de informação de apoio à Gestão do Capital Humano, com a ambição de dar um novo rumo à sua carreira.
A People For People nasceu desta conjugação de fatores. Desde que iniciei a minha carreira, o mercado das tecnologias de apoio à gestão passou por três fazes: a primeira, que coincide com o início da minha carreira, em que as organizações começaram a perceber a importância da tecnologia nos processos de gestão; uma segunda fase, que coincide com uma época de franca expansão internacional do tecido empresarial português, em que as organizações decidiram começar a copiar a todo o custo os standards internacionais nas áreas da gestão e consequentemente na área das ferramentas tecnológicas de apoio à gestão; por fim, uma terceira fase, em que finalmente as organizações começaram a perceber que cada uma delas era única e que precisavam de soluções desenhadas de raiz. As soluções desenhadas de raiz funcionam bem nas organizações de grande dimensão, porque habitualmente têm capacidade financeira para financiar as equipas que trabalham permanentemente alocadas aos seus projetos. No entanto, a maioria das empresas portuguesas não tem essa capacidade financeira e como tal, é fundamental pensar nessas empresas, que são o motor da nossa economia e ajudá-las a ter soluções totalmente customizadas e adaptadas às suas pessoas e à sua cultura. Em suma, educar para uma gestão estratégica de Pessoas, ter a capacidade
de perceber que cada organização é única e como tal tem necessidades únicas, ter a capacidade de desenvolver tecnologia flexível que se adapte às pessoas e às suas necessidades sem que as obrigue a adaptarem-se aos constrangimentos técnicos e tecnológicos das ferramentas, e ter o know-how da nossa equipa, torna-nos das poucas consultoras tecnológicas e de recursos humanos portuguesas.
Quais os serviços que colocam à disposição dos vossos clientes?
Os nossos clientes têm à sua disposição uma equipa multidisciplinar que os apoia com diferentes serviços como a Consultoria, Auditoria, Formação, Outsourcing personalizado e Implementação da nossa solução, o Innergy RH. Os nossos serviços encontram-se segmentados em duas áreas: uma especializada na Gestão do Capital Humano das mais diversas organizações, desde o setor agrícola, passando pela industria e terminando nas dos seriços, nas quais incluímos a banca e administração pública, e outra especializada em apoiar as empresas prestadoras de serviços de recursos humanos a desenvolver o seu negócio nas mais variadas áreas, nomeadamente nas áreas do trabalho temporário, recrutamento e seleção, formação, outsourcing administrativo de recursos humanos, saúde e segurança no trabalho, entre outras.
Qual é a diferença da abordagem ao mercado feita por uma mulher?
É difícil generalizar as diferenças na abordagem ao mercado de pessoas com géneros diferentes, porque essa abordagem depende muito do mercado que estivermos a considerar. Por exemplo, ao longo da minha carreira de consultora, sempre tive mais dificuldade em participar em projetos vendidos e geridos por homens, não porque sejam maus gestores ou péssimos comerciais, mas porque a área da gestão de recursos humanos, além de bastante complexa, é tradicionalmente feminina. Por norma, “eles” têm tendência para pensar que “nós” somos bastante complicadas e acabam por simplificar o que não pode ser excessivamente simplificado. A experiência dita-me que nós mulheres não somos nem melhores nem piores do que os homens. Somos simplesmente diferentes: mais ponderadas, mais sensíveis às necessidades alheias, mais objetivas, mas não deixando de imprimir bastante emotividade ao nosso quotidiano.
Quando falamos de pessoas e de capital humano, a forma como uma mulher lida com as situações é diferente?
Conforme já mencionei, a figura feminina está historicamente ligada à gestão de pessoas e do Capital Humano. Embora as estatísticas salariais permitam aferir que o custo da mão-de-obra feminina é mais baixo, prefiro acreditar que este fator se deve ao maternalismo associado à mulher. Gerir pessoas é muito mais do que dizer a alguém o que fazer no dia-a-dia… É ter a capacidade de observar os outros e com base nos seus gestos, atitudes e palavras perceber o que lhes vai na alma, o que os move, muito à semelhança da capacidade de uma mãe para com os seus filhos. Por isso, acredito que as mulheres lidam com as outras pessoas de forma diferente, personalizada. Isto não significa que sejam melhores ou piores, até porque muitas vezes também é importante que haja uma voz mais austera e atitudes menos emotivas, que tal como nas famílias, estão mais associadas à figura do pai e consequentemente do homem. Assim, penso que as grandes diferenças estão na capacidade de analisar as situações que ocorrem com as pessoas com quem partilhamos o dia-a-dia com mais moderação e bom senso e na preocupação em ouvi-las atentamente, pensando sempre que cada pessoa é uma pessoa diferente e que tem de ser tratada de acordo com o seu perfil.
Ser mulher, líder e empresária, nos dias de hoje, é ainda uma tarefa complicada?
Ao longo da história da humanidade, foram muitas as mulheres que lutaram para a construção do mundo em que hoje vivemos, e que tiveram um papel fundamental para ultrapassar as fronteiras que até então existiam e nos eram impostas pela sociedade, impedindo-nos de demonstrar o nosso potencial nos mais diversos cargos, inclusive os de liderança. Atualmente, considero que ser uma mulher, líder e empresária não é tão complicado quanto se possa pensar. Basta sermos nós próprias e encararmos as situações com que nos deparamos com ponderação e perseverança. Acima de tudo, é essencial nunca desistirmos perante as adversidades que nos vão surgindo, e que são muitas.
Trabalha de perto com recrutamento e seleção de recursos humanos. Na sua opinião, quais são as características que fazem da mulher um ser diferente?
Enquanto recrutadora, sinto que somos mais observadoras e atentas aos pormenores que podem fazer a diferença, sendo simultaneamente mais cautelosas nos discursos que utilizamos. Enquanto recrutada, dada a nossa condição humana, é inevitável não nos sentirmos diferentes quando a maioria dos recrutadores faz questão de se intrometer na nossa vida familiar. Que mulher é que nunca ouviu perguntas como: pensa ter filhos? Quando? Essa mesma condição faz com que sejamos mais expeditas e eficientes do que os homens nalgumas funções e tarefas e menos noutras. No entanto, estou convicta de que somos mais ponderadas e determinadas na candidatura e posterior aceitação de uma oferta de emprego.
Ao nível do recrutamento, sente algum tipo de discriminação por parte das empresas na hora de escolher contratar um homem ou uma mulher?
O primeiro desafio do recrutamento está na estereotipização associada a algumas empresas, cargos, funções e tarefas. O segundo desafio é acabar com a discriminação negativa e infundada das mulheres, que está patente nas atitudes de alguns recrutadores e na cultura das organizações. Sinto que ainda existe alguma estereotipização e discriminação negativa das mulheres por parte de alguns gestores. No entanto, estou convicta de que estas práticas estão gradualmente a decrescer nos últimos anos e que a tendência é que se tornem residuais a médio/longo prazo. Um bom exemplo de igualdade pela diferença é uma empresa industrial que visitei há algumas semanas. Nessa visita, a diretora de recursos humanos referiu por diversas vezes exemplos de contratação de mulheres, até que a dada altura um colega meu lhe perguntou diretamente qual a razão de contratar apenas mulheres. A sua resposta foi: são mais eficientes nestas funções. Quando o meu colega concluiu, com base nessa resposta, que a percentagem de mulheres deveria rondar os 90%, enganou-se, e a explicação foi a seguinte: na outra parte do processo de fabrico, os homens são mais eficientes e produtivos. Esta é uma organização que consegue garantir uma percentagem igual de ambos os géneros, não só na gestão da organização, mas também na área operacional. Este exemplo permite-me concluir que é inevitável que existam funções genericamente mais adequadas a mulheres e outras genericamente mais adequadas a homens. Mas penso que não podemos, nem devemos generalizar!
Para as mulheres, e no que diz respeito ao mercado de trabalho, há ainda muita luta a ser travada?
Tenho de agradecer a todas as mulheres que me antecederam, principalmente à minha Avó e à minha Mãe, por também terem tido a capacidade de lutar e de se afirmarem para que eu e todas as outras mulheres das gerações mais novas pudéssemos ter a qualidade de vida e o nível de participação social que temos hoje. No entanto, ainda há muita luta a ser travada e muitas conquistas a atingir. Felizmente, ao longo da minha carreira tive de conviver com essa realidade de discriminação uma única vez. À exceção dessa situação passageira, sinto-me uma privilegiada pela minha participação nessa luta ser motivada por princípios e não por más experiências. Tenho de agradecer a todos os meus antigos superiores hierárquicos (todos homens…) que tiveram a humanidade de me tratar a mim e às minhas colegas de forma igual aos demais.
Gostaria de deixar alguma mensagem aos nossos leitores?
Sinto que na maioria das vezes temos tendência a ser extremistas e isso preocupa-me. Naturalmente que não devemos ser submissas, mas também não nos devemos tentar sobrepor a ninguém, como alguns grupos feministas extremistas sugerem que se faça. Para o bem e para o mal, mulheres e homens serão sempre diferentes e enquanto ambos os géneros não perceberem isso, continuará a existir discriminação de oportunidades, seja de género, credo, natureza étnica, entre outros... Devemos trabalhar para atingir os nossos objetivos, defendendo aquilo em que acreditamos, e sem nunca nos desviarmos dos nossos princípios. O respeito pelo próximo e muita perseverança, são, do meu ponto de vista, os segredos do sucesso. É neste espirito de flexibilidade, liberdade e diversidade humana que o projeto People For People assenta, pois penso só assim ser possível dar uma resposta personalizada às mais diversas dimensões e realidades humanas com que nos deparamos no nosso quotidiano.